Outubro de 2025 registra recorde de mortes em intervenções policiais no Ceará
Sete suspeitos foram mortos em uma ação da Polícia Militar do Ceará, em Canindé, no último dia de outubro. Foto: Ismael Soares.
O mês de outubro de 2025 marcou um triste marco no estado do Ceará: foram contabilizadas 41 mortes em ações de intervenção policial, o maior número já registrado em um único mês desde que os dados começaram a ser divulgados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), em janeiro de 2013.
Este pico ocorre em meio a um cenário também mais amplo de homicídios no estado: em outubro, foram registrados 284 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) — ou seja, homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Esse total representa também o maior número mensal do ano até agora.
Fatores da elevação
Na nota oficial, a SSPDS esclarece que as mortes em intervenções policiais ocorrem “quando o profissional de segurança, no atendimento de uma ocorrência, precisa neutralizar uma ameaça iminente, visando proteger as pessoas ao redor e a si próprio”. Segundo o órgão, até que se prove o contrário, tais casos “configuram excludentes de ilicitude” — ou seja, seriam decorrentes de legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito.
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Entre as incidentes mais graves desse mês está uma ação no município de Canindé, ocorrida no dia 31 de outubro, em que sete pessoas suspeitas de integrar a facção Comando Vermelho foram mortas durante confronto com forças policiais. Das sete, seis tinham entre 16 e 19 anos, e uma tinha 22 anos.
Impacto no acumulado e no histórico
No acumulado de 2025, de janeiro a outubro, o estado registra 167 mortes por intervenção policial. Para comparação, o ano de 2024 fechou com 189 casos desse tipo, sendo que 2023 apresentou 147. Já para CVLIs, como citado, os 284 homicídios em outubro representam um aumento de 5,9% em relação a outubro de 2024, quando foram 268 casos.
Reações e implicações
O governador do Ceará, Elmano de Freitas, determinou, no início de novembro, que as forças de segurança “iram cada vez mais para cima dessas facções”. Por outro lado, especialistas e organizações de direitos humanos sinalizam que o aumento das mortes em intervenções exige apuração rigorosa e transparência — para garantir que o uso da força seja legítimo e proporcional.
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O que está em jogo
Esse salto nas mortes em intervenções policiais levanta diversos questionamentos:
- Qual o grau de risco e ameaça nas ocorrências que resultaram nas 41 mortes — todas foram realmente “ameaças iminentes” como define a SSPDS?
- Como está o acompanhamento das investigações desses casos, pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), o Ministério Público do Ceará (MPCE) e a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD)? A SSPDS afirma que os casos “são apurados de forma aprofundada e imparcial”.
- Até que ponto o crescimento desse indicador está ligado a uma intensificação no confronto com facções criminosas — e qual o custo para a segurança pública, para o respeito aos direitos humanos e para a própria imagem do sistema de justiça e segurança?
Panorama para adiante
Com os números do recorde de mortes por intervenção policial, o desafio para as autoridades no Ceará se torna duplo: reforçar o combate ao crime organizado — especialmente ações articuladas de facções como o Comando Vermelho — e, ao mesmo tempo, garantir que a atuação estatal obedeça aos limites legais, evite excessos e mantenha respeito aos direitos fundamentais.
Para a população, especialmente das áreas mais vulneráveis às atividades de organizações criminosas e operações policiais: cresce a expectativa — e a preocupação — de que as estratégias de segurança sejam eficazes e seguras, sem colapsar no desrespeito aos direitos ou em crises de legitimidade.
