Disputa entre facções e violência extrema abalam escolas no Ceará, segundo especialista

 Disputa entre facções e violência extrema abalam escolas no Ceará, segundo especialista

Após situações de violência em escolas, especialistas destacam a necessidade de promover acolhimento dos estudantes. Foto: Thiago Gadelha

Em um episódio que chocou a comunidade de Sobral na manhã da última quinta-feira, estudantes que estavam no pátio da Escola de Ensino Médio Professor Luís Felipe tiveram seu intervalo interrompido por tiros vindos de fora da unidade. O ataque deixou dois alunos mortos e três feridos, e expôs com brutalidade o quanto as escolas públicas estão vulneráveis à escalada da violência no Ceará.

O caso é sintomático de um problema maior: especialistas ouvidos pelo jornal Diário do Nordeste apontam que a disputa territorial entre facções criminosas vem invadindo o cotidiano escolar, impondo restrições de circulação e contribuindo para a evasão e o abandono. Segundo o especialista entrevistado, muitos colégios localizados em áreas dominadas por organizações criminosas enfrentam obstáculos para cumprir sua função essencial como espaço de aprendizagem.

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O especialista lembra que, em territórios controlados por facções rivais, alunos ficam impedidos de frequentar regularmente a escola — seja por medo, seja por bloqueios de trânsito impostos pelas facções. Logo, muitos deixam de se matricular ou simplesmente abandonam os estudos. “Temos que manter determinados espaços que, por vezes, nem fossem viáveis economicamente… mas precisamos manter a escola para garantir o direito ao acesso”, afirma.

Quando a violência invade os muros da instituição — como no caso de Sobral —, os impactos se multiplicam: traumas emocionais, queda no desempenho acadêmico, sensação de insegurança generalizada entre estudantes, professores e familiares. O especialista destaca que, após esses eventos, o acolhimento individualizado é essencial, porque cada pessoa sofre de modo diferente — e o tempo de recuperação varia.

Além disso, as facções não agem apenas como grupos delinquentes: estruturam-se como fenômenos sociais, construindo redes de pertencimento e controle que vão muito além do crime. Outro pesquisador ouvido para este contexto reforça que as facções conseguem sobreviver porque se apresentam como comunidades com valores próprios, ocupando espaços onde o Estado é ausente.

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Para enfrentar esse quadro, especialistas defendem que as escolas precisem de atuação conjunta com outras políticas públicas: saúde mental, assistência social, proteção comunitária. No âmbito educacional, enfatizam a importância de desenvolver competências socioemocionais nos alunos — para que reconheçam e lidem com emoções, estabeleçam relacionamentos saudáveis e tomem decisões conscientes — além de incluir práticas culturais, esportivas e fortalecer o sentimento de pertencimento.

Na rede pública estadual, algumas iniciativas já existem: a Política Estadual de Desenvolvimento de Competências Socioemocionais, programas como Diálogos Socioemocionais, comissões de prevenção à violência, e noções de Justiça Restaurativa. No entanto, especialistas alertam que falta vontade política, recursos e articulação para que essas medidas se convertam em proteção concreta nas escolas.