Globo remove 95% das cenas de ator condenador por pedofilia na reprise de ‘Terra Nostra’

 Globo remove 95% das cenas de ator condenador por pedofilia na reprise de ‘Terra Nostra’

Foto: Reprodução

A reprise de Terra Nostra na faixa da tarde reacendeu um debate complexo sobre como lidar com obras clássicas quando a trajetória de um artista envolvido passa a carregar um peso ético e legal negativo. Desde que voltou ao ar, a novela de Benedito Ruy Barbosa sofreu cortes drásticos: estima-se que cerca de 95% das cenas do ator José Dumont, que interpretava Batista, comerciante ligado a Gumercindo (Antonio Fagundes), foram removidas. Apenas uma cena essencial para a continuidade da trama foi mantida.

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Na exibição original, entre 1999 e 2000, Dumont tinha presença constante, participando ativamente de momentos importantes da narrativa. Porém, devido à condenação do ator por armazenamento de material ilegal envolvendo menores, a Globo optou por praticamente apagá-lo da reprise, reforçando a política da emissora de não dar visibilidade a condutas criminosas, mesmo que ocorram fora das telas. Vale lembrar que a participação de Dumont já havia sido reduzida à época, após desentendimentos internos, e agora o corte ganhou força com o peso da condenação judicial.

O caso levanta uma questão delicada: até que ponto é justificável alterar uma obra artística do passado para atender a novas circunstâncias? De um lado, há quem defenda a preservação da integridade da novela, considerando-a um registro histórico da teledramaturgia brasileira. De outro, pesa a responsabilidade ética da emissora em não exibir alguém condenado por crimes graves, especialmente em horário aberto, assistido por públicos de todas as idades.

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No fundo, a decisão da Globo revela a tentativa de conciliar memória cultural com responsabilidade social. Ao optar pelo corte quase total, a emissora protege sua imagem e respeita a sensibilidade do público contemporâneo, ainda que isso comprometa parte da narrativa original. Esse dilema não é exclusivo da televisão brasileira; ele se repete em diversas áreas culturais, quando a conduta de artistas entra em choque com valores sociais e éticos.

Para Terra Nostra, a medida é compreendida como uma escolha pragmática: manter a obra viva na memória coletiva, sem transformá-la em palco para a valorização de alguém que, fora das telas, cometeu atos inaceitáveis. Ao mesmo tempo, reforça o debate sobre o equilíbrio entre preservar a arte e exercer responsabilidade moral, um tema que continuará presente em reprises e adaptações de obras históricas.