Crise na COP30: queixas sobre hospedagem explodem, Panamá cobra Brasil e sugere mudança de sede

Governo é pressionado por outros países a transferir a COP30 de Belém. Foto: Wagner Santana/Reuters
A preparação da COP30, marcada para novembro em Belém (PA), entrou em modo crise. Após reunião na ONU na sexta-feira (22), o representante do Panamá, Juan Carlos Monterrey (no Brasil citado como “João Carlos Monterrey”), divulgou sua fala nas redes e afirmou que as demandas das delegações sobre preços de hospedagem não estão sendo atendidas: “estamos sendo feitos de tolos”. Ele disse ter solicitado ajuda da ONU para formalizar pedido de mudança de sede da conferência.
O estopim é a combinação de pouca oferta de leitos e diárias consideradas abusivas em Belém. Já houve reuniões emergenciais no sistema da ONU para tratar do tema; estimativas apontam que a cidade tem cerca de 18 mil camas de hotel para um evento que espera ~45 mil participantes, com cotações chegando a US$ 700/noite em alguns casos. Grupos de países alertam que podem reduzir delegações por inviabilidade financeira.
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O governo brasileiro rejeita tirar a COP30 de Belém e vem anunciando medidas: força-tarefa para apoiar delegações na busca de acomodações, fretamento de dois navios para ampliar leitos e negociações com o setor para conter abusos — mas a implementação patina e as críticas seguem. Há relatos de que apenas 47 de 196 países tinham acomodação confirmada até meados de agosto, o que reforçou a pressão sobre o Brasil.
A tensão cresceu nas últimas semanas: reportagens internacionais detalharam o risco de exclusão de países em desenvolvimento, mídia e sociedade civil por custo e falta de vagas. Ainda assim, a presidência da COP e o Itamaraty intensificaram a diplomacia para destravar NDCs (planos climáticos nacionais) e evitar que o impasse logístico contamine a agenda de ambição climática até o prazo de 25 de setembro para submissões.
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Além do Panamá, outros atores ligados à ONU classificaram a situação como “insana” e “insulto” às delegações, ecoando a sensação de que as preocupações “entram por um ouvido e saem pelo outro” nas reuniões conduzidas pelo Brasil. O Planalto sustenta que está respondendo às demandas e que Belém será mantida por simbolizar a Amazônia na conferência.
O que está em jogo
Risco reputacional: a narrativa de “elitização” da COP ameaça o caráter inclusivo do processo climático.
Logística: déficit de leitos e diárias altas podem reduzir participação de países pobres e ONGs.
Política diplomática: Brasil tenta conter a sangria e preservar a imagem de anfitrião sem ceder na sede.
Agenda climática: Brasília pressiona por NDCs mais ambiciosas e por negociações fluídas antes de Belém.
